É natural o ser humano achar que é superior em diversas ocasiões. Por exemplo, numa entrevista realizada nos Estados Unidos (o País da liberdade, dizem eles), que possuía apenas uma única questão (Considera-se um condutor acima da média?) mais de 93% das respostas foram “sim”.
É devido a este ímpeto de autoconfiança que há muita gente a decidir com base na hipótese. Por exemplo, suponha que a maioria pensa da seguinte maneira: que o retorno de todos os fundos de ações é aleatório! Ou seja, como não se consegue mensurar o nível de habilidade de cada gestor (ou investidor) para escolher bem as ações, supõem-se que 50% de certos fundos irão ganhar e que 50% dos restantes irão perder. Tendo em conta a informação disponível e o grau de autoconfiança generalizado, joga-se uma moeda ao ar e, se esta cair para cima (cara) presume-se que o fundo de investimento dará resultados.
Caso contrário (coroa), o fundo “perderá o índice” ... Desse modo, torna-se trivial calcular a probabilidade de um fundo e conseguir retornos consecutivos acima do índice, em diversos prazos…. Uma questão de sorte, em que o cálculo é tarefa simples. Vejamos: para um ano a probabilidade é de 50% (1 cara | 1 coroa) e para dois anos a probabilidade cai para 25% (1 hh | 1 ht | 1 th | 1 tt, sendo h = heads/cara e t= tails/coroa para evitar a utilização dupla da letra C). Sendo assim, a fórmula do cálculo terá em conta a probabilidade de haver caras (h) consecutivas em X anos = 1÷(2x). Portanto, a probabilidade de um fundo apresentar retorno consecutivo em dez anos será de 1 ÷ 1.024 ou 0,1%. Para quinze anos de retorno consecutivo a probabilidade será de 1 ÷ 32.768 ou 0,0031%. Pensar nas probabilidades de forma isolada, remete-nos para a ideia de que investir é um evento extremamente raro e que a habilidade dos gestores se relaciona com a sorte.
Obviamente que este pensamento não é meu. É uma conclusão de todos, sendo aprendida nas disciplinas de estatística e análise matemática. Apesar de tudo, de toda a informação e pedidos de cautela, a maioria dos investidores corre atrás de sonhos e da liberdade financeira; de fundos ativos em ações com rentabilidades altas sem, contudo, analisarem, profundamente (tarefa quase impossível), o tipo de risco e a probabilidade desse fundo apresentar um tipo de retorno anormal.
Conclui-se, assim, que, não sendo possível definir com exatidão a capacidade ou a falta da habilidade dos gestores em escolher as melhores ações, investir de forma ativa em fundos é, na grande maioria dos casos, um jogo de sorte e azar com um risco enorme, sendo, na maior parte das vezes, apostas cegas que desconsideram a realidade dos factos e eventos extremos diversos (externalidades). A prática e a história lembram que há muitos “génios”, presenteados e aclamados no meios profissional e académico, a falhar consecutivamente nos mercados financeiros. Porque toda a gente sabe que a linha entre sorte e a habilidade de um gestor de ações é muito ténue, não se deve esquecer o pensamento: “rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”.
Luís Lopes
Consultor Financeiro
Agente de seguros exclusivo MetLife